Histórico

O Sindicato dos Trabalhadores em Empresas Ferroviárias de Bauru, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso representa os ferroviários da antiga Noroeste do Brasil, ferrovia que se estende entre as cidades de Bauru e Corumbá, na divisa com a Bolívia, e entre Campo Grande e Ponta Porá, na divisa com o Paraguai.

Com o advento da Ferronorte e sua implantação nos estados de Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, o sindicato ampliou sua base, passando também a representar os ferroviários desta linha.

A história do movimento sindical ferroviário na estrada de ferro Noroeste do Brasil não é divorciada do histórico de lutas travadas pelos trabalhadores desde a construção da ferrovia a partir de 1905. Entretanto, o surgimento de uma organização sindical com atuação ampla de um extremo a outro da linha e reconhecida por todos ferroviários somente ocorreu durante a década de 1930.

Durante o período de construção da ferrovia (1905-1914), a maioria da mão-de-obra era composta por homens que trabalhavam por empreitadas, recebendo diárias em um serviço considerado pesado e arriscado.

Essa grande maioria de trabalhadores não estava ligada à Companhia de Estradas de Ferro Noroeste do Brasil, mas aos diversos empreiteiros que prestavam serviços de construção da ferrovia. As duras condições de vida e de trabalho registradas nesse período, como ataques de índios, doenças endêmicas, condições insalubres, atrasos contínuos de pagamento, falta de suprimentos alimentares, etc., levaram os trabalhadores ás inúmeras paralisações e revoltas contra os empreiteiros. Essas condições também foram denunciadas pela imprensa operária da época (anarquista, anarco-sindicalista e socialista) com o objetivo de dificultar o recrutamento de trabalhadores nos quatro cantos do país e também no exterior, principalmente no Paraguai, Bolívia e Argentina.

Jornais operários importantes do início do século como, A Voz do Trabalhador, da Confederação Operária Brasileira e La Bataglia, publicado em São Paulo, pautaram frequentemente esse assunto. Figuras importantes do movimento operário da Primeira República como Oresti Ristori e Alessandro Cerchiai visitaram a construção da ferrovia.

As dificuldades características da construção, tais como obras irregulares, que concentravam e depois dispersavam os trabalhadores, típicas de trabalho por empreitada, impediram a organização de um sindicato de ampla representação. Apesar das diversas lutas registradas na época, elas restringiam-se muitas vezes ao nível local.

A atuação local e a pouca durabilidade foram também algumas das características das primeiras organizações de trabalhadores da ferrovia. Em 1909, trabalhadores fundaram a Sociedade Beneficente dos Empregados da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, cujo quadro de sócio era basicamente composto por operários das oficinas de Bauru. Em 1919, ferroviários das oficinas de Aquidauana fundaram o Centro Operário Aquidauanense. Na década de 1920, algumas sociedades de mutualismo também foram organizadas.

A maioria delas estavam localizadas em Bauru e a Sociedade Beneficente 19 de Junho, organizada em 1927, foi a que manteve maior atividade e quadro de sócios.

Sindicato dos Ferroviários do Noroeste do Brasil

Encampada pelo Governo Federal e denominada Estrada de Ferro Noroeste do Brasil em 1918, a ferrovia possuía sua Administração e Oficinas Centrais, inauguradas em 1922, na cidade de Bauru. Na década de 1930, outras oficinas e depósitos menores estavam em atividades nas cidades de Lins e Araçatuba, e em Três Lagoas e Aquidauana.

O saneamento financeiro proposto pelo governo provisório da Revolução de 1930, atingiu diretamente as ferrovias federais. A repercussão imediata foi sentida no bolso dos trabalhadores da Noroeste do Brasil. Nesta situação teve lugar a organização do Sindicato dos Empregados e Operários da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil.

Fundado em 1933, o sindicato dos ferroviários da Noroeste do Brasil está incluído no conjunto de entidades sindicais surgidas e/ou legalizadas a partir do decreto 19770 de março de 1931. Sua primeira investida foi naturalmente consolidar-se em todo o território compreendido entre Bauru e Porto Esperança.

Assim, em Assembléia realizada no dia 19 de março de 1933, os ferroviários leram e aprovaram o Estatuto da entidade. No fim daquele ano, o sindicato contava com mais de 2000 filiados. Entre as lutas vitoriosas deste período destacam-se, entre outras, o estabelecimento de um quadro de vencimentos para os ferroviários mensalistas e jornaleiros (diaristas).

Os primeiros anos do sindicato dos ferroviários também foram marcados por uma forte mobilização política dos ferroviários o que levou a polícia de Bauru, em conluio com a Administração da estrada de ferro, a efetuar diversas intervenções e prisões de dirigentes e trabalhadores. Em 1935, um duro golpe contra a organização dos trabalhadores foi perpetrado pela polícia de Bauru.

O Sindicato foi fechado e vários ferroviários foram enquadrados na Lei de Segurança Nacional e demitidos da ferrovia. Na seqüência, pelegos assumiram a direção e prepararam a integração do sindicato à administração da ferrovia durante o Estado Novo.

É importante dizer que o período também representou diversas vitórias mesmo em um ambiente marcado pela repressão. Entre 1933 e 1935, além da conquista de um quadro de vencimentos, o sindicato representou um espaço de democracia operária em que as diversas correntes de esquerda puderam disputar a política sindical.

As manifestações de 1° de Maio no campo do Esporte Clube Noroeste impulsionadas pelo sindicato reuniam ferroviários de vários pontos da linha.

O Sindicato impulsionou também campanhas contra o fascismo, então ascendente na época. Quando o líder integralista Plínio Salgado visitou Bauru, em outubro de 1934, os ferroviários sintonizados com o sindicato preparam uma manifestação que resultou em confronto direto e violento contra os integralistas. Foi o primeiro grande confronto entre militantes de esquerda e integralistas ocorrido no país.

Quando a repressão desencadeada pela polícia atingia os ferroviários, moções de apoio e solidariedade às lutas chegavam à sede do sindicato, procedentes de várias entidades sindicais, de ferroviários ou não, e de militantes do Brasil.

O sindicato disputou cada espaço de luta na ferrovia. Montou chapa própria e derrotou a chapa apoiada pela Administração da ferrovia nas eleições da Caixa de Aposentadorias e Pensões da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, ocorridas em 1934. Fez campanhas pela alfabetização de ferroviários e seus familiares, exigindo da ferrovia a instalação das turmas próximas às escolas nas cidades cortadas pela ferrovia.

O sindicato ainda teve importância decisiva para a instalação de uma sede da Aliança Nacional Libertadora Nacional em Bauru em maio de 1935, ocasião em que o intelectual e militante comunista Caio Prado Junior esteve na cidade. A brutal repressão à ANL promovida pelo Governo Vargas em todo território brasileiro alcançou os ferroviários e sindicalistas da Noroeste do Brasil, maiores impulsionadores da entidade na região. O alvo direto da polícia, antes da própria sede da ANL, foi o Sindicato em Bauru e suas filiais na região.

Sob forte repressão, os trabalhadores tentaram resistir. Um manifesto lançado na imprensa de Bauru imediatamente à invasão do Sindicato em julho de 1935 dizia que a burguesia sanguinária para nos provocar e tirar os nossos direitos acaba de fechar o nosso Sindicato. E reclamemos tudo o que nos pertence na Greve Geral (Correio da Noroeste, 25/07/1935).

Porém, a presença da polícia instalada dentro das Oficinas em Bauru, somadas as inúmeras prisões efetuadas contra os ferroviários, dificultou a greve geral. Mesmo assim, como muita dificuldade, ferroviários da via permanente conseguiram engraxar a linha até Val de Palmas, impedindo que o grosso efetivo da polícia expandisse à repressão nas demais cidades durante alguns dias. Em Lins, ferroviários cruzaram os braços impedindo a tração de trens e trabalhadores ao longo da linha derrubaram postes e cortaram o telégrafo, prejudicando o tráfego desde Bauru até Porto Esperança.

O sindicato reabriu suas portas através de um mandato de segurança obtido pelos diretores na Justiça Federal após um mês da invasão policial. Mas seus arquivos já haviam sido saqueados e muitos ferroviários e diretores sindicais foram demitidos da ferrovia. Sua reabertura, meramente burocrática, já não representava um ponto de apoio às lutas da categoria. Passava-se, então, para o período em que o sindicato seria controlado por ferroviários patrocinados pela Administração da ferrovia. Coube aos ferroviários lutar novamente, de maneira independente, por seus direitos e por sua organização sindical durante todo o Estado Novo.